segunda-feira, 9 de junho de 2025

Religião, poder e silêncio

A Idade Média foi ou não foi a Idade das Trevas? Depende de quem pergunta. E, talvez mais ainda, de quem responde.

Quando olho para esse período, não o faço com os olhos frios de quem quer listar prós e contras, avanços e retrocessos. O que me atravessa é outra coisa. É quase visceral. A Idade Média, para mim, tem o gosto amargo de um tempo em que o poder religioso dominava corpos, mentes, desejos. Um tempo onde a dissidência – sexual, espiritual, afetiva – era tratada como ameaça. Onde o sagrado foi engaiolado em doutrinas, e o invisível perdeu sua fluidez para virar regra. A “luz” que se projetava vinha sempre de cima, centralizada, dura. E quem via outras luzes – mais suaves, dispersas, intuitivas – era perseguido e condenado. Como se só houvesse uma maneira de acessar o transcendental.

Claro que houve beleza naquele tempo. Catedrais que desafiam a gravidade, músicas que tocam camadas que a razão não explica. Mas nada disso muda o fato de que, para quem se reconhece numa espiritualidade plural, sincrética, autônoma – como é o meu caso – a Idade Média foi uma noite longa demais. Não por falta de ciência, mas por excesso de controle. Não foi uma era sem conhecimento, mas uma era em que certos conhecimentos foram sistematicamente sufocados. E eu não consigo romantizar isso.

Então, se me perguntam se a Idade Média foi a Idade das Trevas, eu devolvo: e se foi, mas não pelas razões que geralmente se diz? E se as trevas não estavam na ignorância, mas na arrogância de um sistema que achava que podia decidir o que era luz – e queimar o resto?

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