
O que é, afinal, a Verdade?
Existe uma pergunta que nos acompanha feito sombra, mesmo quando o dia parece claro: o que é verdade? Não a verdade gritante dos manuais ou a fria dos números, mas aquela que pulsa entre o que sentimos e o que sabemos. Onde, afinal, termina o fato e começa a opinião? E mais ainda – o que habita esse meio-termo silencioso, essa terra de ninguém onde boa parte do nosso saber parece acontecer?
Fatos costumam ser definidos como o que existe fora de nós, aquilo que permanece mesmo quando desviamos o olhar. Como pedras no caminho: duras, impassíveis. Mas até as pedras ganham nome, medida, sentido – e tudo isso é dado por quem as observa. A ciência, embora pretenda capturar verdades objetivas, não escapa dessa mediação. Nenhum fato nasce puro: ele atravessa teorias, instrumentos, contextos. O que chamamos de verdade empírica é, muitas vezes, uma construção sólida, sim, mas erguida sobre andaimes humanos.
Opiniões, por outro lado, são íntimas como cartas não enviadas. Elas brotam da história de quem somos, dos afetos que nos moldam, das dores que nos ensinaram a ver o mundo de certo jeito. E embora não possam ser provadas como teoremas, também carregam uma forma de verdade – mais emocional do que lógica, mais sentida do que demonstrada. Não são menos válidas por isso. Em certos casos, são até mais fiéis ao que realmente vivemos.
Entre esses dois extremos, mora o que escapa à dicotomia. Hipóteses, interpretações, saberes tácitos. Aquilo que ainda não é fato, mas também não é puro achismo. Existe um tipo de conhecimento que não se explica, mas se vive – uma intuição silenciosa que guia nossas decisões mais profundas, mesmo quando não conseguimos dar nome a ela. Talvez seja aí que resida o coração do saber: não em certezas absolutas, mas na coragem de habitar o ambíguo.
A epistemologia contemporânea já percebeu isso: que toda verdade carrega um pouco de invenção. Que todo fato é contado por alguém, de algum lugar, com alguma intenção. Saber, então, não é separar com pinça o real do ilusório, mas reconhecer os jogos de linguagem, os contextos e os afetos que moldam aquilo que chamamos de real. Porque no fim das contas, talvez a verdade seja menos uma descoberta e mais uma dança – entre o que o mundo é e o que escolhemos ver.
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