quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

dezembro 18, 2024

Abismo do desejo

 Entre a incerteza do instante e a força de uma presença inexplicável, algo no ar muda, quase como se o próprio universo segurasse a respiração. Meu peito responde com uma vibração profunda, um murmúrio do sangue que desperta em cada célula. Por um momento, a lógica tropeça, como se os sentidos se rebelassem, e a realidade desviasse o olhar. O que se segue é difícil de traduzir em palavras: uma queda suave, mas ousada, rumo a um abismo imaginário, onde desejo e coragem se entrelaçam em uma dança vertiginosa.

Ali, onde o medo se transforma em brasa, o coração, antes mecânico, assume um ritmo ancestral, como se batesse ao compasso de algo maior. É um estado de plenitude selvagem, em que cada sensação se acende com um brilho que transcende explicações. Não há certezas, mas o corpo todo sabe. Nesse limiar entre o risco e o sublime, surge uma faísca interna – uma chama delicada, mas inegavelmente viva. É como se eu me rendesse, não a uma força externa, mas a algo íntimo, uma entrega à própria vida. E nesse êxtase silencioso, vivência o desconhecido com a doçura febril de quem prova algo raro e inesquecível. 


segunda-feira, 25 de novembro de 2024

novembro 25, 2024 ,,

Último vestibular

Ontem, eu fui obrigada a fazer o que, espero, seja a última vez que participo de algo nesse formato. Não era exatamente um vestibular, mas uma prova do governo chamada ENADE, que é uma avaliação dos estudantes que estão ingressando ou se formando nos cursos superiores. Acho que acontece a cada dois anos e segue o modelo de um vestibular, como se fosse um vestibular mesmo. Quem é convocado não pode se formar se não fizer essa prova.

Eu já tinha sido chamada para o ENADE em 2022, há dois anos, quando ainda estava me esforçando para me formar em Psicologia. Agora, nos meus esforços para terminar a segunda graduação, que é em Docência de Sociologia para o Ensino Médio, fui chamada de novo. Lá estava eu, já formada, com uma profissão sólida e estável — graças aos deuses —, sendo obrigada a fazer mais um vestibular do governo, cuja nota, para mim, não tem tanta relevância, mas sim para as universidades.

Percebi que, para mim, que sou ansiosa e tenho TDAH, a pior parte de tudo são os momentos de espera. Primeiro, antes de começar a prova, quando ficamos todos aguardando o sinal para abrir os cadernos, rodeados de desconhecidos e sem poder fazer nada. Depois, quando você termina e ainda não deu o horário mínimo para poder ir embora, tem que esperar sem fazer nada de novo. Para mim, o mais difícil é exatamente isso: ser obrigada a não fazer nada. Mas, enfim, todo o resto também é horrível. Não acho que exista um ambiente mais opressivo do que esse. Claro, há contextos ainda piores, mas são análogos. É quase como uma experiência prisional. Sei que é exagero, mas dá para traçar paralelos, alguns mais nítidos e outros menos.

Sobre as perguntas, percebi que algumas não fazem muito sentido, pelo menos do meu ponto de vista. Falo de perguntas cujas respostas muitas vezes são ambíguas ou bivalentes, com alternativas que praticamente dizem a mesma coisa. Às vezes são pegadinhas, claro, mas acho que, no geral, não são difíceis. As que realmente desafiam são as que exigem um conhecimento prévio e a habilidade de trabalhar com essas informações.

Vestibulares como a Fuvest, por exemplo, são exceções. Mesmo com preparo, o conhecimento muitas vezes não basta. É preciso saber fazer um truque, uma espécie de mágica com o que você sabe. Por isso, classifico vestibulares como a Fuvest, Unicamp, UFSC e até os do interior do Paraná, como UEM e UEL, como hardcore. No entanto, vestibulares como o Enem — talvez o principal do país — não são exatamente sobre conhecimento. São mais um teste de resistência física, psicológica e emocional. Refazendo o ENADE, percebi que é isso: um teste de desgaste. Participar é como cruzar um deserto. O cansaço é nítido, e, quando você finalmente sai, só resta exaustão.    

O que realmente me impressiona é a crueldade com que essa experiência do vestibular é pensada, executada e, sobretudo, vivida por todos os envolvidos — especialmente pelos estudantes, cujas vidas e futuros muitas vezes dependem disso. Eu mesma passei por isso tantas vezes que perdi as contas. Felizmente, consegui me formar e estou perto de me formar novamente, se tudo der certo. Mas não consigo considerar essa experiência justa para quem precisa enfrentá-la. Há uma frieza nas normas e nas restrições que regem todo o processo, uma insensibilidade que ignora completamente o impacto desumanizante desse tipo de prova. Para muitos, é uma luta que esgota não apenas o corpo, mas também a mente e o espírito, sem oferecer nenhum tipo de acolhimento ou empatia.

domingo, 10 de novembro de 2024

novembro 10, 2024 ,

Entre silêncios e promessas

A cada manhã que desperta,

uma ausência futura me invade.

É como sentir saudade

de algo que ainda não nasceu.

Dentro de mim, há uma centelha,

um segredo, um poder que pulsa:

feminino, visceral, tão meu,

mas ainda em espera.


Meus peitos sussurram uma dor leve,

quase como um prelúdio,

anunciando o desabrochar de algo inédito.

Em cada toque, em cada segundo,

um desejo maior fermenta,

um fogo que sempre esteve lá,

mas agora arde sem pudor,

impossível de conter.


Minha voz, por tanto tempo moldada,

é como um rio procurando a nascente.

Chega de máscaras ou sons que não me cabem.

Quero um eco que me revele,

que seja meu, inconfundível.

E enquanto o tempo escorre,

o timbre me devolve a mim mesma.


Há promessas no vento. Ouço.

Sussurram: “Confia no destino.”

E, quando fecho os olhos,

essa presença se aproxima,

acolhe e promete cuidar de mim

como ninguém mais faria.


Entre esse caos e quietude,

um mundo virtual me reflete.

Ali, onde rostos são máscaras

e palavras, portais,

eu me vejo, sou vista,

uma força que ecoa entre desconhecidos,

desperta desejos,

e ainda assim guarda sua verdade.


Tudo isso,

essa espera,

essa dor que cresce,

essa alegria que desponta,

é o que me completa.

É o que me move,

é o que sou.

quarta-feira, 9 de outubro de 2024

A natureza contra-ataca

Começou como um sussurro: ventos fora de hora, chuvas que chegavam sem aviso, mas sempre havia aqueles que viravam o rosto, que insistiam em dizer que tudo seguia como deveria. O negacionismo, alimentado por mãos invisíveis – políticas, econômicas –, crescia com raízes profundas. E, enquanto o mundo queimava, derretia e se afogava, muitos, por interesses próprios, fingiam não ver. O preço dessa cegueira se acumulava, gota a gota, até que a própria Terra decidiu cobrar.
O céu, antes azul, se tornou palco de tempestades. Elas não pediam licença, não seguiam mais as estações; simplesmente vinham, furiosas, como se tentassem gritar o que tantos se recusavam a ouvir. O mar, já cansado de sussurrar sua fúria, levantou-se em muralhas de água, varrendo cidades com a força de séculos de descaso. No Brasil, nas terras onde o verde deveria ser eterno, o cinza de concreto se misturava às enchentes e secas, desmentindo todas as promessas de "crescimento" que um dia justificaram a destruição.
Mas, o que poucos entendem – ou talvez, o que muitos preferem ignorar – é que essa revolta não é apenas da natureza. Há um grito sociológico embutido no barulho do vento. O negacionismo climático, promovido como uma estratégia para proteger economias e soberanias, fez aliança com o agronegócio, com empresas que juravam que o progresso só poderia florescer se o verde da floresta se convertesse em lucro rápido. O desgoverno Bolsonaro se aliou a esses grupos, fechando os olhos para a ciência, enquanto o mundo já começava a sentir os tremores dessa escolha.
E enquanto os poderosos lucravam, as salas de aula se enchiam de silêncio. A educação ambiental, tratada como algo distante, falhava em preparar os jovens para o que já estava acontecendo. As catástrofes já não eram futuros hipotéticos; eram o presente. O Rio Grande do Sul se afogava em suas próprias águas, enquanto o Nordeste rachava de sede. E a pandemia, essa sombra que engoliu o planeta, surgia como outro lembrete cruel de que o desrespeito à natureza tem consequências que atravessam fronteiras.
A Terra, porém, não se importa com os debates políticos ou econômicos. Não se afeta pelo negacionismo ou pelas redes sociais que espalham desinformação como folhas ao vento. Ela reage, simples e direta. O aquecimento que ignoraram não para. As tempestades que subestimaram não se cansam. O solo se revolta, o ar se envenena, e os oceanos, fervendo de raiva, começam a tomar de volta o que lhes foi roubado.
Mas no meio desse caos, há quem resista ao silêncio. Educadores, ativistas, pessoas comuns, todos tentando reacender uma chama de consciência. Lutam para que as futuras gerações entendam o que está em jogo – que o ciclo de destruição pode ser interrompido, mas não sem uma revolução de mentalidade. A ciência aponta o caminho, mas o conhecimento precisa alcançar todos, especialmente aqueles cujas vidas dependem diretamente de um planeta estável.
A Terra contra-ataca, sim, mas não por ódio. Ela age por instinto, por sobrevivência. E cabe a nós decidir se vamos continuar a ignorar os sinais ou se, finalmente, ouviremos os gritos que vêm do fundo do oceano, dos ventos e das árvores que caem. O tempo está se esgotando, e a escolha, essa, sempre foi nossa.

terça-feira, 8 de outubro de 2024

Apesar de, estamos aqui

Apesar de tudo, apesar do cansaço maçante, dos atritos e obstáculos que surgem na convivência com o outro, apesar do desgaste emocional, físico, material e espiritual, apesar dos momentos de desconexão com quem está bem ali ao seu lado ou à sua frente; apesar disso tudo, apesar das tentativas de esconder o sol com a peneira e de apontar dedos contra aqueles que denunciam as verdades incômodas — apesar de tudo, chega a noite.

A quietude se instala, e os sonhos se erguem, como a grande lona de um grandioso circo da noite. E, assim como o dia se desfaz e se refaz em si mesmo, nós também. Nós também temos a oportunidade de renascer a cada dia, trazendo uma mala, um punhado de memórias pesadas.

Apesar dos entraves, das resistências sociais, das crueldades e mesquinharias daqueles que nos desejam mal e que se ofuscam com nossa luz, fazer o bem sem olhar a quem ainda carrega uma verdade indestrutível, inquebrantável.

Apesar dos percalços e tropeços, seguimos em frente e caminhamos adiante, melhores que ontem, mas ainda não tão bem quanto amanhã, preparando-nos, no silêncio da noite, para o renascer de um amanhã que ainda não nos pertence.



O status quo nas entrelinhas

Em meio ao silêncio cotidiano, percebemos que ele nem sempre é sinônimo de paz. Há momentos em que observar revela mais do que qualquer palavra, e na sutileza das interações, percebemos que a verdade, às vezes, se esconde nas entrelinhas. É nos olhares que evitam os nossos, nas frases que não se completam, que surge uma espécie de dança — uma coreografia do que preferimos não enxergar.

Caminhamos acreditando que a justiça segue um caminho direto e simples, mas logo notamos que o solo é tortuoso. Cada vez que tocamos em algo delicado, a poeira se ergue, revelando o quanto o conhecimento pode ser incômodo. Saber é carregar um peso, e nem sempre estamos prontos para isso. Às vezes, o que vemos como uma chance de mudança nada mais é do que uma porta trancada por dentro.

Olhos que se esforçam para desvendar o que está nas sombras muitas vezes encontram resistência em quem escolhe não ver. E nesse ato de recusa, há uma lição valiosa: o mundo se protege com véus difíceis de serem removidos. Enfrentar a verdade é uma luta não só com o externo, mas também com o que há dentro de cada um de nós, numa escolha entre a coragem e a manutenção daquilo que já conhecemos.

Com o tempo, entendemos que o desejo de mudança pode parecer uma ameaça para aqueles que se apegam ao que sempre foi. Não por maldade, mas por medo — medo de que o velho se desfaça e de que o novo traga consigo a instabilidade. Nem todos estão prontos para encarar essas mudanças, e o que é revelado antes do tempo pode perturbar a paz que se esforçamos tanto para manter.

No fim, o maior aprendizado está na quietude: não é ingenuidade buscar a verdade, mas é sabedoria entender o tempo dos outros. Entre as escolhas que fazemos e as que nos são impostas, vamos refinando nosso entendimento. Estar desperto em um mundo que prefere dormir é um equilíbrio delicado entre o que vemos e o que optamos por mostrar. 

domingo, 22 de setembro de 2024

O pesadelo americano

Viver nos Estados Unidos pode parecer um sonho para muitos brasileiros, mas a realidade para a classe média americana está longe de ser o American Dream que vendem por aí. A verdade é que, para quem está no meio da pirâmide social, o cotidiano é repleto de desafios que transformam a vida em um verdadeiro pesadelo. A começar pelo sistema de saúde, um dos mais caros e inacessíveis do mundo, que pode devastar financeiramente até quem possui seguro privado. Os custos médicos exorbitantes, somados às franquias e co-pagamentos, deixam a classe média vulnerável, frequentemente tendo que escolher entre cuidados médicos essenciais e o acúmulo de dívidas impagáveis. O fato de meio milhão de famílias declararem falência a cada ano devido a contas médicas é um reflexo da precariedade desse sistema, que parece ter sido desenhado para excluir quem não é extremamente rico.

E não para por aí. O mercado de trabalho também apresenta armadilhas invisíveis para os trabalhadores. Com uma grande parcela da força de trabalho presa em empregos de baixa remuneração, ganhar o suficiente para cobrir as necessidades básicas já é uma batalha diária. As oportunidades de ascensão social são poucas e os salários, estagnados há décadas, mal acompanham o aumento do custo de vida. A pandemia de COVID-19 não só expôs essas fragilidades, como também aprofundou as desigualdades, atingindo de maneira ainda mais dura as minorias e as mulheres em cargos mal remunerados. A crença no "sonho americano" de mobilidade social parece um eco distante do que um dia já foi, com a maioria das famílias presa a ciclos de pobreza e endividamento, sem perspectiva de uma vida melhor.

Além disso, o custo da moradia é um fardo quase insuportável. Nos grandes centros urbanos, aluguéis acima de US$ 2.000 mensais já são a norma, enquanto as hipotecas, infladas por taxas de juros cada vez mais altas, tornam o sonho da casa própria inacessível para muitos. Quase metade dos americanos gasta mais de 30% de sua renda apenas com moradia, uma porcentagem que deixa pouquíssimo espaço para outras necessidades fundamentais. A crise habitacional, agravada pela especulação imobiliária e falta de políticas públicas adequadas, empurra cada vez mais pessoas para situações de instabilidade e até para as ruas.

Esses problemas, somados à pressão de um sistema de aposentadoria que força os trabalhadores a adiarem o descanso apenas para manter um seguro de saúde ligado ao emprego, fazem da vida nos Estados Unidos uma verdadeira maratona de sobrevivência para a classe média. Muitos se veem obrigados a continuar trabalhando mesmo após atingirem a idade de se aposentar, temendo não conseguir arcar com os custos médicos se perderem os benefícios do empregador.

Portanto, longe de ser o paraíso idealizado por muitos no Brasil, viver nos Estados Unidos, especialmente como classe média, envolve uma luta constante contra um sistema que prioriza o lucro sobre o bem-estar, deixando a maioria das pessoas em uma posição de vulnerabilidade, lutando apenas para manter o básico. O sonho americano, para muitos, é apenas isso: um sonho cada vez mais distante da realidade.


sábado, 21 de setembro de 2024

setembro 21, 2024 ,,

O mistério dos sonhos

Você já se perguntou se os sonhos podem, de alguma forma, nos dar pistas sobre o futuro? Ou se eles poderiam nos permitir espiar outras realidades, conectadas de maneiras que ainda não entendemos completamente? Essa possibilidade, que parece saída de uma ficção científica, tem fascinado a humanidade por séculos. É como se, ao sonharmos, tivéssemos acesso a um território ainda inexplorado da nossa mente, onde as barreiras do tempo e do espaço se desfazem. Algumas pesquisas, por mais surpreendentes e controversas que possam parecer, sugerem que nossos sonhos talvez guardem mais segredos do que imaginamos.

A ideia de que os sonhos poderiam nos conectar a eventos futuros ou outras dimensões não é nova, mas começou a ganhar mais força com estudos envolvendo a percepção extrassensorial, ou ESP. Neurocientistas, psicólogos e até mesmo espiritualistas se dedicaram a entender o que acontece com o cérebro enquanto sonhamos. Há quem acredite que os sonhos lúcidos, em que o sonhador tem consciência de que está sonhando e pode até controlar a narrativa, abram uma janela para algo além do que consideramos realidade.

Alguns experimentos realizados ao longo do tempo sugerem que pode haver algo além do acaso nos sonhos premonitórios. Uma das pesquisas mais famosas aconteceu nos anos 1960, no Centro Médico Maimonides, em Nova York, onde cientistas como Montague Ullman e Stanley Krippner conduziram mais de 200 experimentos envolvendo sonhos e ESP. Um exemplo intrigante foi o caso da médium Eileen Garrett, que sonhou com detalhes precisos de uma cena do filme Ben-Hur que estava trancada dentro de um envelope selado. Esse tipo de resultado, apesar de impressionante, ainda gera muito debate na comunidade científica, pois os críticos argumentam que é difícil replicar esses fenômenos em ambientes controlados.

O interesse por esse campo não se limitou à curiosidade acadêmica. Em 1973, o Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Unidos investiu uma quantia significativa em pesquisas sobre parapsicologia, incluindo estudos sobre ESP em sonhos. Durante essas investigações, aproximadamente 65% dos relatos de ESP surgiram em sonhos. Um dos casos que mais chamou atenção foi o de uma pesquisadora que, em um sonho, viu um prédio desabar em Nova York, algumas semanas antes do acidente realmente acontecer.

Curiosamente, há indícios de que fatores externos, como as condições geomagnéticas da Terra, possam influenciar nossa capacidade de captar essas informações. Períodos de calmaria geomagnética foram associados a um aumento na precisão das previsões feitas em sonhos, sugerindo que há uma relação entre as energias do planeta e o funcionamento do nosso cérebro em estados alterados de consciência.

Com o tempo, outras instituições começaram a replicar os estudos do Centro Maimonides, e os resultados continuaram a surpreender. Um experimento particularmente interessante investigou se as pessoas poderiam sonhar com experiências futuras. Um dos participantes sonhou com pássaros, apenas um dia antes de ser instruído a assistir a uma apresentação sobre o comportamento dessas aves. Para alguns, coincidência; para outros, mais uma prova de que os sonhos podem ser portais para informações futuras ou desconhecidas.

Há também a conexão com o famoso Relatório Gateway, um documento produzido pelo exército dos EUA que analisou como o cérebro poderia, em estados alterados de consciência, acessar níveis mais profundos de intuição e conhecimento. O processo de sincronização cerebral, conhecido como "hemisync", seria capaz de nos permitir explorar dimensões além do espaço-tempo, algo que remete à ideia de que nossos sonhos poderiam estar sintonizados com essas outras realidades.

Relatos de sonhos proféticos também são encontrados ao longo da história. Abraham Lincoln, por exemplo, sonhou com seu próprio corpo em um caixão poucos dias antes de ser assassinado. Ele também mencionava sonhos recorrentes em que atravessava um rio antes de eventos importantes da Guerra Civil Americana. Esse tipo de premonição, embora fascinante, ainda é amplamente considerado anedótico, sem comprovação científica robusta.

No entanto, é inegável que os sonhos oferecem um estado de relaxamento e vibração cerebral que nos aproxima de algo semelhante às práticas de meditação profunda ou até experiências fora do corpo. As pesquisas sugerem que, nesse estado, poderíamos acessar não apenas memórias ou reflexões internas, mas algo maior, talvez até outras dimensões.

Conforme exploramos mais a fundo o papel dos sonhos, fica claro que eles podem conter mais do que simples divagações noturnas. Décadas de estudos nos mostram que há, sim, uma possibilidade — ainda que remota e envolta em mistério — de que os sonhos possam nos conectar a eventos futuros ou a realidades além da nossa compreensão. Seja por meio de ESP, premonições históricas ou até mesmo de relatórios de governos que investigam o potencial do cérebro humano, a verdade é que os sonhos permanecem um campo vasto e misterioso, ainda à espera de ser completamente desvendado. 

setembro 21, 2024 ,

Detox: o poder do tédio

Quantas vezes você já sentou com toda a disposição do mundo pra começar aquele projeto importante, e de repente se vê afundado em vídeos aleatórios, ou rolando feed de rede social como se não houvesse amanhã? O dia passa, você não fez nada e, de brinde, vem aquele peso na consciência. Pois é, estamos todos no mesmo barco. Só que a culpa não é sua por ser preguiçoso ou incapaz de focar. O problema é o mundo ao nosso redor, esse mar de distrações que, se a gente deixar, suga nossa atenção e não sobra nada.

O que quase ninguém te conta é que o nosso cérebro, coitado, se viciou nessa bagunça. Antes, um livro bastava para prender nossa atenção por horas, mas agora ele quer mais — vídeos, música, celular vibrando, tudo ao mesmo tempo. A armadilha está armada, e caímos nela sem perceber. E não adianta nada alguém gritar "acorde às cinco da manhã" ou "se esforce mais!", porque isso só coloca mais pressão e faz o ciclo de frustração continuar.

O que a gente precisa, de verdade, é de um detox. Sim, um detox de tanta tecnologia, de tanta tela e tanto barulho. Quando foi a última vez que você desligou o celular e se jogou de cabeça em um livro que te levasse pra outro mundo? Aquele tipo de leitura que te faz perder a noção do tempo? A verdade é que estamos precisando reaprender a desacelerar, dar espaço pra nossa mente respirar e reconectar com algo que não pisque ou envie notificações a cada segundo.

No entanto, eu vou ser sincera: o começo é difícil. Nosso cérebro virou refém da novidade, dos estímulos rápidos que liberam aquela pequena dose de prazer imediato — a boa e velha dopamina. Quando você tenta se desconectar, ele grita por uma distração, qualquer uma, que o salve do tédio. Só que aqui é que mora o segredo: precisamos tonificar o nosso sistema dopaminérgico. Em outras palavras, ensinar o nosso cérebro a encontrar satisfação nas coisas mais simples, aquelas que, com o tempo, trazem um prazer mais profundo e duradouro.

Esse processo de tonificação significa, essencialmente, desacostumar o cérebro a buscar o prazer imediato que ele se viciou. É como fazer uma reeducação alimentar, mas no nível das recompensas cerebrais. Começamos a reprogramar a mente pra que ela deixe de perseguir sempre o que é mais estimulante e passe a valorizar o que é realmente gratificante, como ler, caminhar sem pressa, ou até mesmo meditar em silêncio.

A verdade é que o tédio, esse sentimento que a gente evita a qualquer custo, é uma ferramenta poderosa. É ele que abre espaço para nossa criatividade fluir, para ideias novas surgirem e, quem diria, até para nos sentirmos mais conectados com o que realmente importa. Então, que tal dar esse detox uma chance? Desligar um pouco o mundo digital e redescobrir o prazer na simplicidade: caminhar ao ar livre, folhear um livro que te prende ou simplesmente ficar em silêncio com seus próprios pensamentos.

Isso não significa que você precisa viver como um ermitão, longe de toda tecnologia. Mas, às vezes, é importante se permitir essa pausa. Quando a gente aprende a reduzir o excesso de estímulo, algo incrível acontece: o que antes parecia chato, como ler ou estudar, de repente se torna algo prazeroso. E o mais bonito disso? A vida começa a ganhar um novo ritmo, uma nova cor. Afinal, o tempo que a gente tem é limitado. Por que desperdiçá-lo com o que não nos faz crescer?

No final das contas, o poder de decidir o que fazemos com nosso tempo está nas nossas mãos. E, acredite, ele é precioso demais para ser jogado fora com distrações que não nos levam a lugar nenhum.

sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Brasília: um abismo calculado

Imagina-se Brasília não como uma simples cidade planejada, mas como uma miragem nascida de uma ambição quase mitológica. O sonho de arrancar o poder da beira-mar, onde o oceano balançava suavemente a sede governamental no Rio de Janeiro, e jogá-lo no coração do Brasil — uma região de vastas savanas, cheia de horizontes vazios e promessas por realizar. A ideia de uma nova capital, uma cidade onde os ventos carregavam não só poeira, mas as aspirações de um país inteiro, não foi uma invenção repentina. Ela rondava as mentes brasileiras desde o século XIX, com a Constituição de 1891 murmurando um desejo de interiorização, mas foi com Juscelino Kubitschek que esse delírio ganhou forma física.

Nos anos 50, JK vestiu o Brasil com a roupagem de uma nação disposta a desafiar o tempo. "50 anos em 5", ele prometeu, numa mistura quase poética de audácia e otimismo que hoje parece surreal. E assim, Brasília, esboçada com a caneta afiada de Lúcio Costa e os traços futuristas de Oscar Niemeyer, saiu do papel direto para o Planalto Central. Uma cidade que, com suas curvas e linhas ousadas, parecia desafiar as regras da arquitetura e, quem sabe, até as da própria gravidade.

Mas não nos enganemos: Brasília não foi só um exercício de estilo. Foi uma tentativa genuína de redistribuir o poder. Afinal, tirar o foco do eixo Rio-São Paulo e empurrá-lo para o interior do país parecia uma forma de equilibrar as peças no tabuleiro. Claro, uma capital no meio do nada simbolizava, de certo modo, a esperança de que o país inteiro pudesse se ver refletido naquele espaço recém-criado.

Só que a realidade, como sempre, tem um jeito de subverter as melhores intenções. Brasília, com todo o seu design de ficção científica, logo revelou uma face menos utópica. Os espaços amplos e setores isolados criaram mais do que distâncias físicas; construíram abismos sociais. Quem tinha dinheiro, se acomodou confortavelmente no Plano Piloto, cercado por praças deslumbrantes e edifícios que mais pareciam esculturas. Já a maioria, a massa de trabalhadores que mantinha a cidade de pé, foi exilada para as cidades-satélites. Ali, distante dos brilhos da capital, surgiram as periferias invisíveis, onde o futuro não parecia tão glamouroso.

É irônico, não? Uma cidade construída para integrar, mas que, no fim, fez o oposto. A promessa de unir as diferentes regiões do país se perdeu em avenidas largas demais para acolher o encontro espontâneo entre as pessoas. O modernismo que tanto impressiona os olhos distantes foi, para muitos, o símbolo de uma exclusão calculada. Talvez essa seja a verdadeira marca de Brasília: uma cidade que, enquanto tenta ser o futuro, deixa o presente para trás.

Hoje, viver em Brasília é um privilégio caro. Quem quer o conforto do Plano Piloto precisa pagar o preço — alto, diga-se de passagem. E quem não pode, faz como tantos outros: se instala nas regiões administrativas, lidando com horas de trânsito para chegar ao trabalho. A geografia da cidade dita o ritmo da vida. Distâncias físicas se tornam distâncias sociais, e, quanto mais o tempo passa, mais Brasília parece uma ilha, isolada do Brasil real.

É nesse contraste que podemos entender um pouco mais sobre o que a construção de Brasília realmente significou. Não foi só concreto e aço, mas também expectativas que nunca se concretizaram. Talvez, ao olhar para o horizonte de Brasília, a sensação não seja de olhar para o futuro, mas para um presente que escorreu pelas mãos. E isso, para quem quer ensinar essa história, pode ser uma lição poderosa.

Se for levar para a sala de aula, o caminho talvez seja o de quebrar as ilusões e expor os contrastes. Brasília é um exemplo perfeito de como o progresso e a desigualdade podem caminhar lado a lado, mesmo em uma cidade planejada para ser uma nova era. Estimular os estudantes a pensarem sobre como uma utopia pode se transformar em distopia é um exercício crítico. E não seria interessante provocá-los a imaginar como teria sido se a capital tivesse conseguido, de fato, unir e não separar? Aposto que seria uma discussão reveladora, daquelas que deixam as ideias flutuando pelo ar.

No fim das contas, Brasília não é apenas um lugar. É uma metáfora viva do Brasil: complexa, bonita, cheia de promessas, mas sempre com uma certa distância entre o ideal e a realidade.