
O status quo nas entrelinhas
Em meio ao silêncio cotidiano, percebemos que ele nem sempre é sinônimo de paz. Há momentos em que observar revela mais do que qualquer palavra, e na sutileza das interações, percebemos que a verdade, às vezes, se esconde nas entrelinhas. É nos olhares que evitam os nossos, nas frases que não se completam, que surge uma espécie de dança — uma coreografia do que preferimos não enxergar.
Caminhamos acreditando que a justiça segue um caminho direto e simples, mas logo notamos que o solo é tortuoso. Cada vez que tocamos em algo delicado, a poeira se ergue, revelando o quanto o conhecimento pode ser incômodo. Saber é carregar um peso, e nem sempre estamos prontos para isso. Às vezes, o que vemos como uma chance de mudança nada mais é do que uma porta trancada por dentro.
Olhos que se esforçam para desvendar o que está nas sombras muitas vezes encontram resistência em quem escolhe não ver. E nesse ato de recusa, há uma lição valiosa: o mundo se protege com véus difíceis de serem removidos. Enfrentar a verdade é uma luta não só com o externo, mas também com o que há dentro de cada um de nós, numa escolha entre a coragem e a manutenção daquilo que já conhecemos.
Com o tempo, entendemos que o desejo de mudança pode parecer uma ameaça para aqueles que se apegam ao que sempre foi. Não por maldade, mas por medo — medo de que o velho se desfaça e de que o novo traga consigo a instabilidade. Nem todos estão prontos para encarar essas mudanças, e o que é revelado antes do tempo pode perturbar a paz que se esforçamos tanto para manter.
No fim, o maior aprendizado está na quietude: não é ingenuidade buscar a verdade, mas é sabedoria entender o tempo dos outros. Entre as escolhas que fazemos e as que nos são impostas, vamos refinando nosso entendimento. Estar desperto em um mundo que prefere dormir é um equilíbrio delicado entre o que vemos e o que optamos por mostrar.
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