segunda-feira, 10 de março de 2025

O Brasil na coleira das elites do atraso

As elites brasileiras, essas criaturas fascinantes e um tanto previsíveis, vivem em dois mundos paralelos: um feito de soja e gado, e outro de brunchs sofisticados e apartamentos de design minimalista. E o mais interessante? Ambas acham que são as verdadeiras protagonistas dessa tragicomédia chamada Brasil. Mas, no fundo, fazem parte da mesma engrenagem — a tal "elite do atraso", como Erika Hilton bem define. Um grupo que, apesar das aparências, tem um compromisso inabalável com a manutenção de privilégios e com a resistência a qualquer avanço que ameace suas estruturas de poder.

De um lado, temos a elite do agronegócio, os senhores da terra, que veem o país como um grande tabuleiro de monoculturas. Para eles, a economia brasileira é basicamente uma questão de plantar, colher e exportar, sem tempo para essas “bobagens” de preservação ambiental ou direitos indígenas. São pragmáticos, influentes e têm o poder de dobrar políticas públicas ao seu bel-prazer, afinal, a bancada ruralista não existe por acaso. No seu imaginário, o Brasil é um gigante agrícola, e qualquer coisa que fuja desse roteiro é papo de gente “desconectada da realidade”.

Do outro lado, a elite urbana, os intelectuais de lifestyle, que moram em bairros arborizados e discutem questões sociais enquanto saboreiam um café especial de R$ 30 a xícara. São os entusiastas da educação de qualidade, da meritocracia seletiva e do consumo consciente — desde que não exija abrir mão de privilégios. Frequentemente, olham para o Brasil profundo com uma mistura de culpa e desdém, sem perceber que suas narrativas de progresso também sustentam desigualdades. No fim das contas, ambas as elites se encontram no mesmo dilema: querem um país melhor, mas só até o ponto em que isso não comprometa seu próprio conforto.

E é aí que entram vozes como Erika Hilton e Senhorita Bira, que escancaram as contradições dessa elite do atraso. Hilton, ao denunciar a jornada 6×1 — aquela maravilha que faz um trabalhador passar seis dias por semana moendo sua saúde para, no sétimo, descansar sem forças para nada — expõe o verdadeiro abismo entre quem toma as decisões e quem as sente na pele. A proposta de reduzir a carga semanal para 36 horas sem corte salarial não é uma ideia absurda, mas para essa elite, qualquer passo em direção ao mínimo de dignidade soa como uma afronta. Enquanto isso, Bira, em suas análises afiadas, expõe a farsa da polarização entre a elite do agronegócio e a elite urbana, mostrando que, no fim do dia, ambas operam pelo mesmo projeto: concentrar riquezas e terceirizar os prejuízos.

Porque, no fim das contas, a ameaça real não é econômica, e sim simbólica: o risco de que os trabalhadores percebam que podem exigir mais. E assim seguimos, num país onde as decisões vêm sempre de cima, enquanto o resto de nós apenas assiste, meio perplexo, meio conformado — e, talvez, cada vez menos disposto a aceitar o roteiro imposto.


quarta-feira, 5 de março de 2025

Orgulho em ser brasileira

Apesar de ser brasileira de corpo e alma, não sei se posso dizer que sou patriota. Há muitas coisas que eu amo neste país, e por isso não o trocaria por nenhum outro – ao menos, não como lar. Mas esse fervor nacionalista que tantos carregam definitivamente não me alcança. E, sinceramente, tem muito na cultura brasileira que não me encanta. Carnaval, futebol, essa paixão quase religiosa por certas tradições… não são para mim.

Mas se há algo que me faz sentir um orgulho genuíno de ser brasileira, é a beleza que habita este país. A vastidão da natureza, do verde intenso das matas ao dourado das praias, a diversidade de ecossistemas que fazem do Brasil um lugar único. E a comida! Nada se compara ao conforto de um arroz com feijão bem feito, ao cheiro do café passado na hora ou ao sabor de um queijo mineiro de verdade.

Acima de tudo, o que mais me toca é essa capacidade que temos de transformar desconhecidos em família. Esse calor humano, essa forma de acolher e criar laços sem esforço. E claro, há a democracia, a Constituição de 1988 – tão jovem, tão frágil e ao mesmo tempo tão essencial. No fim, são essas coisas que fazem com que, mesmo com todos os seus desafios, eu não me veja abandonando este país. Ele ainda é, apesar de tudo, meu lar. E acho muito difícil que isso mude algum dia.