segunda-feira, 25 de novembro de 2024

novembro 25, 2024 ,,

Último vestibular

Ontem, eu fui obrigada a fazer o que, espero, seja a última vez que participo de algo nesse formato. Não era exatamente um vestibular, mas uma prova do governo chamada ENADE, que é uma avaliação dos estudantes que estão ingressando ou se formando nos cursos superiores. Acho que acontece a cada dois anos e segue o modelo de um vestibular, como se fosse um vestibular mesmo. Quem é convocado não pode se formar se não fizer essa prova.

Eu já tinha sido chamada para o ENADE em 2022, há dois anos, quando ainda estava me esforçando para me formar em Psicologia. Agora, nos meus esforços para terminar a segunda graduação, que é em Docência de Sociologia para o Ensino Médio, fui chamada de novo. Lá estava eu, já formada, com uma profissão sólida e estável — graças aos deuses —, sendo obrigada a fazer mais um vestibular do governo, cuja nota, para mim, não tem tanta relevância, mas sim para as universidades.

Percebi que, para mim, que sou ansiosa e tenho TDAH, a pior parte de tudo são os momentos de espera. Primeiro, antes de começar a prova, quando ficamos todos aguardando o sinal para abrir os cadernos, rodeados de desconhecidos e sem poder fazer nada. Depois, quando você termina e ainda não deu o horário mínimo para poder ir embora, tem que esperar sem fazer nada de novo. Para mim, o mais difícil é exatamente isso: ser obrigada a não fazer nada. Mas, enfim, todo o resto também é horrível. Não acho que exista um ambiente mais opressivo do que esse. Claro, há contextos ainda piores, mas são análogos. É quase como uma experiência prisional. Sei que é exagero, mas dá para traçar paralelos, alguns mais nítidos e outros menos.

Sobre as perguntas, percebi que algumas não fazem muito sentido, pelo menos do meu ponto de vista. Falo de perguntas cujas respostas muitas vezes são ambíguas ou bivalentes, com alternativas que praticamente dizem a mesma coisa. Às vezes são pegadinhas, claro, mas acho que, no geral, não são difíceis. As que realmente desafiam são as que exigem um conhecimento prévio e a habilidade de trabalhar com essas informações.

Vestibulares como a Fuvest, por exemplo, são exceções. Mesmo com preparo, o conhecimento muitas vezes não basta. É preciso saber fazer um truque, uma espécie de mágica com o que você sabe. Por isso, classifico vestibulares como a Fuvest, Unicamp, UFSC e até os do interior do Paraná, como UEM e UEL, como hardcore. No entanto, vestibulares como o Enem — talvez o principal do país — não são exatamente sobre conhecimento. São mais um teste de resistência física, psicológica e emocional. Refazendo o ENADE, percebi que é isso: um teste de desgaste. Participar é como cruzar um deserto. O cansaço é nítido, e, quando você finalmente sai, só resta exaustão.    

O que realmente me impressiona é a crueldade com que essa experiência do vestibular é pensada, executada e, sobretudo, vivida por todos os envolvidos — especialmente pelos estudantes, cujas vidas e futuros muitas vezes dependem disso. Eu mesma passei por isso tantas vezes que perdi as contas. Felizmente, consegui me formar e estou perto de me formar novamente, se tudo der certo. Mas não consigo considerar essa experiência justa para quem precisa enfrentá-la. Há uma frieza nas normas e nas restrições que regem todo o processo, uma insensibilidade que ignora completamente o impacto desumanizante desse tipo de prova. Para muitos, é uma luta que esgota não apenas o corpo, mas também a mente e o espírito, sem oferecer nenhum tipo de acolhimento ou empatia.

domingo, 10 de novembro de 2024

novembro 10, 2024 ,

Entre silêncios e promessas

A cada manhã que desperta,

uma ausência futura me invade.

É como sentir saudade

de algo que ainda não nasceu.

Dentro de mim, há uma centelha,

um segredo, um poder que pulsa:

feminino, visceral, tão meu,

mas ainda em espera.


Meus peitos sussurram uma dor leve,

quase como um prelúdio,

anunciando o desabrochar de algo inédito.

Em cada toque, em cada segundo,

um desejo maior fermenta,

um fogo que sempre esteve lá,

mas agora arde sem pudor,

impossível de conter.


Minha voz, por tanto tempo moldada,

é como um rio procurando a nascente.

Chega de máscaras ou sons que não me cabem.

Quero um eco que me revele,

que seja meu, inconfundível.

E enquanto o tempo escorre,

o timbre me devolve a mim mesma.


Há promessas no vento. Ouço.

Sussurram: “Confia no destino.”

E, quando fecho os olhos,

essa presença se aproxima,

acolhe e promete cuidar de mim

como ninguém mais faria.


Entre esse caos e quietude,

um mundo virtual me reflete.

Ali, onde rostos são máscaras

e palavras, portais,

eu me vejo, sou vista,

uma força que ecoa entre desconhecidos,

desperta desejos,

e ainda assim guarda sua verdade.


Tudo isso,

essa espera,

essa dor que cresce,

essa alegria que desponta,

é o que me completa.

É o que me move,

é o que sou.