
Abismo do desejo
Entre a incerteza do instante e a força de uma presença inexplicável, algo no ar muda, quase como se o próprio universo segurasse a respiração. Meu peito responde com uma vibração profunda, um murmúrio do sangue que desperta em cada célula. Por um momento, a lógica tropeça, como se os sentidos se rebelassem, e a realidade desviasse o olhar. O que se segue é difícil de traduzir em palavras: uma queda suave, mas ousada, rumo a um abismo imaginário, onde desejo e coragem se entrelaçam em uma dança vertiginosa.
Ali, onde o medo se transforma em brasa, o coração, antes mecânico, assume um ritmo ancestral, como se batesse ao compasso de algo maior. É um estado de plenitude selvagem, em que cada sensação se acende com um brilho que transcende explicações. Não há certezas, mas o corpo todo sabe. Nesse limiar entre o risco e o sublime, surge uma faísca interna – uma chama delicada, mas inegavelmente viva. É como se eu me rendesse, não a uma força externa, mas a algo íntimo, uma entrega à própria vida. E nesse êxtase silencioso, vivência o desconhecido com a doçura febril de quem prova algo raro e inesquecível.