quinta-feira, 8 de setembro de 2022

setembro 08, 2022 ,

Inauguração Lunar

Esta é a inauguração de um projeto indefinido, um espaço aberto às palavras — mais um, entre muitos —, para que elas possam vir a ser, tal como tudo que existe, e que só o faz através do Devir.


A vida tem adquirido um ritmo diferente, com a rotina de trabalho. O medo deu lugar ao cansaço; a ansiedade, à solidez de horários predeterminados, fixos. Há de se cumprir com os horários, até com espaçosa antecedência, para garantir que não faltará o pão do mês que vem.

Muitas coisas mudaram, e drasticamente, de mais para menos e vice-versa. Outras, nem tanto. Algumas características me atravessam, independente do momento de minha vida; talvez isso seja o mais próximo que posso chegar de entender as partes sólidas do Eu que é, francamente, mutável.

Aprender a remediar, a prevenir, a cuidar, a ter paciência, a descansar, a me divertir. Viver é uma tarefa diária e cheia de entraves, mas absolutamente necessária e inevitável. Viver é imperfeito, é muitas vezes desconfortável, e, acima de tudo, nos ensina a ser fortes. Temos de nos manter firmes apesar das marés e turbulências, pois ceder e desistir tem um preço caro demais, que é a própria sobrevivência. Viver é, antes de mais nada, sobreviver, e ver o que se faz com o resto do tempo, energia e dinheiro que sobram — o que não costuma ser muito, mas já é alguma coisa.

As memórias sempre me ocorrem, ao longo dos dias, como borboletas que pousam em meu nariz. Elas me são um acalanto, um aconchego, um sopro de calor na nevasca do tempo, que passa rápido demais e vai deixando coisas para trás. Os que a vida deixou para trás, entregando-os no seio da morte e da súbita inexistência, continuam vivos na memória, o que não deixa de ser bom e triste, ao mesmo tempo. Bom que tenham existido; triste que tenham partido, compulsoriamente.

Nesses alguns anos de vida, escrevi um tanto, e ainda hei de escrever muito mais. Contudo, sinto agora que palavras não chegam aos pés de uma boa noite no silêncio da natureza.